“O dia que tudo mudaria”, uma forma que os fanáticos e
religiosos usavam para justificar a profecia para esse dia. Alguns falavam que seria
um alinhamento planetário que mudaria o eixo do planeta, outros falavam em
explosão solar e destruição da Terra, alguns ainda tinham uma visão otimista,
e defendiam o dia 12.12.12, como o dia da mudança na vibração energética da
humanidade e o início de uma nova era de paz.
Porém esse dia começou bem comum para James. A Av. Paulista
continuava cheia de gente, que corriam para todos os lados atrás de seus
problemas sem se preocupar com o amanhã. O trânsito continuava caótico e as
pessoas se esbarravam no metrô sem olhar para os lados.
Os fanáticos diziam que o horário para o “O dia que tudo
mudaria” seria por volta das 06h06 da tarde, um número cabalístico de acordo
com as profecias. James não acreditava nessas bobagens, mas por via das
dúvidas, justificaria um porre, afinal se o mundo acabasse que fosse com ele
bêbado.
Marcou de encontrar sua namorada e seu melhor amigo na saída
do metrô Trianon e de lá se embebedar no bar mais próximo. Como trabalhava
perto, saiu às 17hs do trabalho e foi caminhando, observando o movimento à sua
volta. Viu quando Natália chegou, uma bonita ruiva de cabelos curtos.
Porém, quando estava perto das 18hs, tudo se tornou
acinzentado e pequenos pontos avermelhados rasgaram o céu, com uma forte
neblina aparecendo e transformando a rua em uma escuridão total, apagada somente
pelas luzes dos carros e da iluminação da rua.
Exatamente as 18h06min, uma grande explosão ocorreu. Não era
possível enxergar o que estava acontecendo, pois a neblina se tornava cada vez
mais densa. James agarrou a mão de Natália e eles correram para o metrô
descendo as escadas. Lá, encontrou seu melhor amigo, encostado em um canto em
estado catatônico. O lugar estava escuro e a única luminosidade eram os clarões
das explosões lá fora, já que a energia elétrica havia sido cortada
completamente.
James olhou na direção das escadas que davam à linha amarela
e viu uma movimentação grande de pessoas, era como se um enxame de
abelhas estivesse subindo, todas marchando. Os reflexos das explosões
revelaram a expressão no rosto das pessoas. Olhos saltados, esbugalhados, com bocas
esticadas em um sorriso artificial e todos movimentavam a cabeça, braços e
pernas simultaneamente.
Eles sabiam que havia algo errado com aquelas pessoas e que
deveriam sair de lá imediatamente, porém ao chamar seu amigo, ele se enrolou em
seu corpo em pânico. James virou o corpo e viu quando aquelas pessoas pegaram
seu amigo e o jogaram para trás, como uma bola de basquete.
Ao sair do metrô, de todas as estações “enxames” saiam. As
que estavam normais corriam para todos os lados fugindo, e “abelhas”
vinham atrás, lentas e sincronizadas pegando uma a uma as que caiam e
jogando-as para trás. Ao lado, uma parte
do Conjunto Nacional caiu sob algumas pessoas que se escondiam. O ar foi se
tornando cada vez mais pesado, com cheiro de fumaça e sangue. Pedaços de
concreto caiam o tempo todo e um grande buraco foi aberto onde alguns minutos
atrás ficava o acesso para a Av. Doutor Arnaldo.
Eles corriam, quando algo atingiu Natalia, a jogando no chão.
Enquanto ele tentava tirá-la dos escombros, as abelhas se aproximavam e ele viu
que no meio delas estava seu amigo, mas ele estava com aqueles olhos
esbugalhados e o sorriso artificial. Ao ver que ele não conseguiria sair de lá,
ele pegou um pedaço de ferro sentou-se esperando pelo enxame, porém sua
namorada pediu para que ele fosse embora e se salvasse. Enquanto falavam, uma abelha
se aproximou de Natalia, e de sua boca uma espécie de aranha saiu, com patas
compridas e finas, que entraram pela sua garganta e a asfixiaram imediatamente. Natália teve espasmos por alguns
segundos, e depois levantou virando a cabeça para James, com os olhos
esbugalhados e o sorriso artificial.
James segurou Natalia e a chacoalhou, gritando para ela
reagir, mas ela só murmurava, gemia e grunhia. Quando percebeu Natália o
segurava em um abraço forte demais para uma humana. Sentia dor nos braços e
mesmo tentando se desvencilhar não conseguiu. Da boca dela saíram patas finas e
transparentes, tocando seus lábios. James fechou a boca, mas foi em vão, a
aranha entrou pelo nariz. Ele conseguia senti-la passeando dentro de si, e
falando em sua cabeça.
“Você será feliz agora”
“Viemos para salvá-lo”
“Tudo ficará bem”
“Me deixe ficar e vá
embora”.
0 Comentario "12.12.12 - 06:06"
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